João Bethencourt era detestado pela esquerda - ele não acreditava que o homem podia ser aperfeiçoado. Era odiado pela direita - ele não acreditava que o homem podia ser controlado. Mas era amado pelo ser humano comum, que ria muito da maneira engraçada e original com que ele defendia o direito do homem de ser o mais imperfeito e incontrolável possível. Um talento que ele desenvolveu em comédias que o fizeram ser o mais produtivo e mais bem-sucedido autor do teatro brasileiro do século XX, e que se expandiu para fora do palco em livros como esta coletânea de artigos feitos para a revista Senhor, publicada originalmente em 1964. Foi o ano do início da última ditadura no Brasil, que acabou desmoralizada três décadas depois, e não por falta de aviso de Bethencourt. Quando escreveu sobre abajures, síndicos e colunistas sociais, ele já jogava luz nos detalhes de nossos costumes, que eram a base de nossa mais sólida instituição: a esculhambação.